sexta-feira, 25 de julho de 2008

FOGO

“Trata-se neste caso de um fogo calmo, regular, domesticado, onde uma acha enorme arde com pequenas chamas. É um fenômeno monótono e brilhante, verdadeiramente total: fala, voa, canta.”
A televisão costuma constituir o foco de atenção na maioria das casas, mas ela é um débil substituto de algo realmente vivo. O fogo é uma pedra de toque emocional e é quase tão fundamental psicologicamente, quanto o é a necessidade funcional da água para o nosso organismo.
No início da humanidade, o fogo era nossa primeira proteção, nossa ferramenta, nossa defesa real do mundo externo e agressivo. Ao mesmo tempo e por este motivo, tornou-se um “centro” para os nossos ancestrais. Em volta dele, protegiam-se, faziam as refeições, compartilhavam o conhecimento e passavam sua história para os descendentes. Estas ações, repetidas por centenas de milhares de anos, fizeram do fogo um elemento arquetípico incorporado no nosso inconsciente. O fogo nos atrai. Podemos observar esta presença interior, ao pedirmos para uma criança desenhar uma casa: haverá quase sempre uma referência ao fogo.
Mas antes de tudo o fogo é um agente do devaneio, do sonho e da projeção. Gaston Bachelard, em seu livro a Psicanálise do Fogo, acentua o caráter fenomenológico deste elemento: “Por isso, em nossa opinião, quem não for capaz de divagar em frente ao lume da lareira perdeu realmente o uso primordial e humano do fogo... E é sempre assim, mediante um prazer extra – como uma sobremesa – que o fogo se mostra amigo do homem. E o homem descobriu seu intelecto através do prazer, e não das lágrimas! A conquista do supérfluo nos confere uma excitação espiritual maior que a conquista do necessário. O fogo, para o homem que o contempla, é um exemplo de mudança súbita, de desenvolvimento, de evolução circunstancial. O fogo evoca o desejo de acelerar o passo do tempo, magnifica o destino humano, une o pequeno ao grande, o coração com o vulcão...”

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