sexta-feira, 20 de março de 2009

MINHA CASA SOU EU – As partes e o todo.

“Existe um modo intemporal de construir. Tem milhares de anos de antigüidade e é hoje o mesmo de sempre. Este modo conduzirá, a quem quer que o busque, a edifícios que são em si mesmos tão eternos em sua forma como as árvores e as colinas. Como nossos rostos...” Christopher Alexander, The Timeless Way of Building Para muitas pessoas o esforço de chegar a serem fiéis a si mesmas é o problema central de suas vidas. Quando conhecemos pessoas que são fiéis a si mesmas, imediatamente sentimos que são mais "reais" que as outras. Para um visitante é fascinante entrar numa casa que constitua a expressão vital de uma pessoa ou de um grupo. A manifestação de suas vidas, de suas histórias, de suas inclinações, colocadas com toda a franqueza pelas paredes, móveis e estantes sempre nos dá aquela sensação de sermos bem vindos e de que ali existe algum tipo de harmonia. Acho que todos nós acreditamos que é muito difícil estar plenamente de acordo com a gente mesmo, simplesmente copiando os modelos externos sobre como as coisas devem ser. Isso sempre vai gerar algum tipo de conflito. O que na realidade buscamos é conseguir manifestar e sentir a nossa singularidade neste mundo, assim como o nosso sentimento de pertencer. Demonstramos isso na nossa vida diária, através das nossas relações com as pessoas, com o trabalho, com o nosso espiritual... Mas também muitas vezes sem nos darmos conta, usamos nossas roupas, nossos carros, nossos objetos e até a nossa casa, como símbolos para comunicar-nos e representar-nos para o mundo. Entretanto, quando pensamos em expressar-nos através da nossa casa, muitas vezes as coisas ficam um pouco mais complicadas, e até um exercício lúdico e cheio de prazer como escolher cores para as paredes, pode tornar-se um tormento de insegurança, dúvida e conflito. Isso acontece porque temos infinitas opções para resolver uma mesma questão e sempre ficamos na dúvida se estamos escolhendo a melhor. É impossível saber. Até porque todas as cores são lindas! Costumo ficar pensando se é possível definir um processo que me mostre como posso fazer da minha casa, um lugar realmente “vivo” que reflita exatamente quem eu sou, ou que seja uma promessa do que eu quero me tornar. Através deste exercício, algumas coisas com o tempo, foram ficando muito claras para mim: Nós não percebemos o mundo em pedaços, nós vivenciamos e percebemos os lugares, as coisas e as pessoas como um todo e o que nos faz gostar ou não, disso ou daquilo, desta ou daquela, é principalmente a relação entre as suas partes e não das partes propriamente ditas. A relação entre as partes é a rede invisível que as interliga, é a alma, e nela está o segredo da beleza de tudo que existe. Na natureza é assim. Eu explico; Num exemplo bem simples, imagine as pessoas mais bonitas que você já viu. Pegue de cada uma delas, sua parte mais linda, mais perfeita. Os olhos de uma, a boca de outra, o rosto de uma terceira e vá assim selecionando todos os elementos necessários para compor um novo ser humano. Junte agora todas estas belas partes e pronto! Você acredita que criou o mais belo ser humano que já existiu? Claro que não, na verdade você acaba de criar um monstro! Sabe por quê? Porque mesmo usando os elementos mais lindos de cada um deles, você os tirou de um contexto em que tinham um tipo de relação única entre as suas partes e que dificilmente irá se repetir em um outro meio sem parecer artificial. Por isso que é ruim copiar. Por isso é melhor ser autêntico. Podemos pensar nesta metáfora quando queremos nos vestir bem, fazer uma receita gostosa, cultivar um grupo de amigos, elaborar um bom trabalho em equipe e fazer milhares de outras coisas nas nossas vidas. Na nossa casa não seria diferente. Também lá o que interessa, é a relação que nós estabeleceremos com os objetos, os móveis, os quadros, as cores... mas somente a intensidade do nosso envolvimento, é que dará vida e brilho a este lugar que chamamos de lar. Assim para dar à minha casa, a minha identidade, o primeiro passo é definir que tipo de relações eu vou querer que existam por lá.

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