sábado, 26 de julho de 2008

Você é disposto a mudar?

apartamento Escopelli - projeto do estúdio.
Um dos prazeres de ser arquiteto é poder brincar com a criação. Poder a partir de umas poucas pistas, fazer surgir alguma coisa que existirá por algum tempo, ou talvez com sorte, até por muito tempo. Primeiro criá-la na imaginação, depois no papel ou na tela do computador e finalmente confrontá-la com a realidade. É um desafio gostoso que passa por todas as etapas de uma gestação, inclusive com direito a depressão pós-parto. Quando a obra é nova, a grande expectativa é de ver como ela vai interferir e conviver com a sua vizinhança, como será aceita pelos seus habitantes e usuários, como será a sua vida útil. Será admirada? Ficarão indiferentes? Na realidade, apesar de tentarmos, não temos muito controle sobre que personalidade ela terá. Ela simplesmente cumprirá o seu destino. Mais ou menos como quando uma criança vem ao mundo, pois ninguém escapa de fazer projeções sobre a vida de um bebê. Por outro lado, quando a obra não é nova o desafio é diferente. O desafio então, é alquímico, é o da mudança, da transformação. É mais difícil. Mudar é difícil. Mudar para melhor então nem se fala! É o desafio da Fênix. A fênix é um pássaro da mitologia grega que quando morria entrava em auto-combustão e passado algum tempo renascia das próprias cinzas. A mudança real sempre passa por algum tipo de destruição e talvez por isso as remodelações me fascinem tanto. A remodelação é a promessa ou a oportunidade de um espaço se tornar melhor, de transcender a sua existência anterior, mas para isso será inevitável passar pelo caos e pela destruição daquilo o que se tornou. Mais ou menos como acontece com as pessoas. Poder observar este processo periodicamente, para mim é uma dádiva, é didático, ilustra o processo pelo qual devemos passar internamente de tempos em tempos, para não ficarmos com a vida empalhada, sem brilho, sem graça, poeirenta... Quem sabe é por isso que chamam esta área de “Arquitetura de Interiores”.

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