sexta-feira, 6 de abril de 2007

Um Teto sobre as nossas cabeças - (ou a Poética do Sótão).

"A casa é um corpo de imagens que dá ao homem razões ou ilusões de estabilidade. Ela é imaginada como um ser vertical e concentrado.
A sua verticalidade é proporcionada pela polaridade entre o porão e o sótão. E o teto, revela imediatamente sua razão de ser: cobre o homem que teme a chuva e o sol.
No sótão vê-se a nu, com prazer, o forte arcabouço do vigamento. Participa-se da sólida geometria do carpinteiro.
No porão também encontraremos utilidades, sem dúvida. Mas ele é, a princípio, o ser obscuro da casa, o ser que participa das potências subterrâneas..."
Em um estudo realizado pelo Professor Amos Rapoport em seu livro "House Form and Culture" (1969), ele ressalta a importância das imagens e dos símbolos para a forma da casa e diz que o telhado inclinado de duas águas é o símbolo mais poderoso de abrigo e segurança.
A psiquiatra francesa Ménie Gregoire pediu a crianças que nasceram e moravam em apartamentos para que desenhassem um lar. Sem exceção, todas desenharam uma pequena casa com duas janelas, um telhado de duas águas e uma chaminé expelindo fumaça. O telhado de uma residência tem um papel fundamental no inconsciente de todos os seres humanos. Tanto, que as habitações mais primitivas geralmente têm a forma de um telhado. Evidências como essas podem ser rechaçadas com alegações de serem culturalmente induzidas. No entanto, podemos dizer que fica faltando às pessoas a sensação mais profunda de abrigo e lar, quando o telhado está oculto, se é plano ou não é utilizável.
A economia complementa as razões simbólicas. Trata-se de algo totalmente irracional, construir-se uma casa com cobertura inclinada (telhado) e não tornar habitável este espaço tão rico em poesia e utilidade.
O sótão tem que ser um espaço vivo e útil, um lugar com o qual se tenha contato diário. De maneira que os telhados não só cubram as habitações mas, formem-nas. Cada vez mais uma grande parte da superfície das cidades consiste de telhados, vários edifícios uns ao lado dos outros, cada um subindo mais, como que na busca de um lugar ao sol. Pois, exatamente por isso resulta que seja perfeitamente natural e essencial construir-se coberturas onde as pessoas possam aproveitar o sol e o ar livre.

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